Preços derrubam participação do agronegócio no PIB da Bahia
O agronegócio da Bahia teve reduzida, no primeiro trimestre deste ano, sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) do estado, mesmo mantendo em alta a produção e a produtividade. O dado, calculado e divulgado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), mostra que a atividade agrícola deixou de representar quase 25% do PIB local, recuando para 19,6% nos três primeiros meses de 2023. A quebra de preços de diferentes commodities registrada nos últimos meses explica essa mudança.
O superintendente de Política do Agronegócio da Secretaria da Agricultura da Bahia, Claudemir Nonato, exemplifica: “a soja, que contribui significativamente na formação do PIB da agropecuária, teve a saca de 60 kg cotada a R$ 180,00 em março de 2022 em Barreiras, ao passo que, no mesmo mês e na mesma praça, mas neste ano, o produto foi vendido a R$ 139,00, o que representou perdas para o produtor e um baque no cálculo parcial de nosso PIB”.
Outro exemplo é a saca de café tipo bebida dura, comercializada em Vitória da Conquista. Em março do ano passado, era vendida a R$ 1.330,00. No mesmo período deste ano, a cotação foi de R$ 1.020,00. Os preços do boi gordo seguiram o mesmo caminho: a arroba comercializada em Feira de Santana, em março de 2022, chegou a R$ 310,00, enquanto no final do primeiro trimestre do ano corrente fechou a R$ 260,00.
Números devem voltar a subir – O superintendente Claudemir Nonato explica também que o Produto Interno Bruto do agro é calculado considerando quatro grandes agregados, que contribuem, em momentos diferentes do ano, para a formação do PIB. Ele salienta que o primeiro trimestre, apesar da ocorrência de algumas safras, não é o principal para o setor. “O grosso de nossa produção agrícola, como é o caso dos grãos, se desenvolve no segundo trimestre do ano e isso trará impactos positivos tanto no próprio segmento agropecuário (Agregado II) quanto nos demais segmentos, com destaque para o transporte e comercialização, que formam o Agregado IV”, pontua.
Considerando essa especificidade, espera-se que no segundo trimestre se verifique um desempenho mais favorável para o segmento do agronegócio baiano com elevação da participação no PIB total da Bahia.
Produção em alta – A Companhia Nacional de Abastecimento estima que deverão ser cultivados 3,76 milhões de hectares com lavouras de grãos no estado da Bahia, o que representa um aumento de 3,1% em relação à área cultivada da safra anterior. A expectativa de produção é de 13,3 milhões de toneladas de grãos e 592 mil toneladas de fibras, um aumento em relação ao ciclo anterior de 9,0% e 10,9% respectivamente.
A colheita da soja foi finalizada neste mês. Boa parte do milho 1ª safra ainda não foi colhido devido à queda das cotações, ficando armazenado na planta. A colheita do algodão está em atraso comparada ao ciclo passado, gerando um alerta em relação à obediência do calendário fitossanitário estabelecido. As lavouras de 3ª safra já estão com 50% das áreas plantadas.
A cultura que teve o maior aumento de produtividade foi a mamona, justificado pelo aumento na proporção das áreas manejadas com um maior pacote tecnológico, principalmente cultivadas com uso da irrigação. De forma geral, as culturas de 1ª safra também apresentaram evolução dos índices de produtividade, exceto o feijão caupi, cultivado com pouca intensidade de tecnologia, que teve adversidade climática em etapas fundamentais do ciclo da cultura.
Os principais aumentos de área observados devem ocorrer com as culturas do trigo, feijão cores 1ª safra e do milho 1ª safra com acréscimos de 42,9%, 28,7% e 13,5%, respectivamente. No caso do trigo observa-se a resolução de gargalos comerciais com a consolidação de um novo cenário de demanda para o produto na região Extremo Oeste do estado aliado à percepção do produtor de benefícios agronômicos na produção com relação a redução de nematoides e melhoria da saúde dos solos; em relação ao feijão, as boas perspectivas climáticas da região de Irecê, a expectativa de frustração de safra no Sul do país e a tendência de alta nas cotações foram os principais fatores que influenciaram o aumento da área cultivada; com relação ao milho, a abertura de novas áreas é justificada pela conjuntura do mercado do grão com os produtores acreditando na manutenção das condições de preço e demanda.