Música sempre: de crooner ao melhor da Black Music
Sua voz é inconfundível e é o que o Brasil tem de melhor no estilo Black Music/MPB, que começou no final da década de 60, com os bailes blacks e funks, bem no estilo norte americano, e que com a fusão com a MPB, ganhou característica própria no Brasil e se popularizou até os dias atuais.
E quem bem soube condensar esse estilo foi Emílio Santiago (1946-2013), o antigo crooner das orquestras musicais e boates cariocas, que mais tarde se tornou uma das principal referências musicais brasileiras.
Emílio Vitalino Santiago, carioca da cidade do Rio de Janeiro, antes de ser cantor, formou-se em Direito, pela Faculdade Nacional de Direito, em 1960, e pelo seu ativismo social, pensou em largar o curso e seguir a carreira de Diplomata com o objetivo de que o Itamaraty tivesse um negro em seus quadros. Mas a música sempre foi o seu norte e nele exerceu forte influência, e por isso entre sonhos e o curso de Direito, cantava nos bares da faculdade, em roda de amigos, mas apenas por diversão.
Até que um dia seus colegas de curso o inscreveram, sem ele saber, no Festival de Música da Faculdade. O resultado: venceu o concurso, chamando a atenção dos jurados, entre eles, da cantora Beth Carvalho. Foi o início da carreira, pois resolveu participar de outros festivais estudantis, ganhando todos eles. Mas, afinal, conseguiu concluir o Curso de Direito, e tudo indicava que seria um advogado. Mas o chamado da música falava mais alto e ele resolver arriscar a sua performance no programa de Flávio Cavalcanti, na extinta TV Tupi, chegando ao final do concurso.
Sua voz o levou a integrar, como como crooner, a orquestra de Ed Lincoln, além de várias apresentações em boates e casas noturnas do Rio de Janeiro, e até mesmo a substituir o cantor Tony Tornado, no conjunto musical, quando este saiu para disputar o V Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro, em 1973. Foi nesse ano que gravou e lançou o primeiro compacto (versão menor do antigo LP) com as músicas Transa de amor e Saravá Nega.
Do primeiro LP (Long Play) lançado em 1975, com músicas de Ivan Lins, Gilberto Gil, João Donato, Jorge Bem (mais tarde Benjor), Nelson Cavaquinho, entre outros, foram dez álbuns, todos com pouca repercussão. Mas ao ganhar o concurso Rede Globo MPB Shell em 1982, com a canção Pelo Amor de Deus, foi escolhido três anos depois como o melhor intérprete no Festival dos Festivais, com a música Elis Elis. E em 1982, quando iniciou o Projeto Aquarela Brasileira, que seria apenas com um LP, o trabalho teve tamanha repercussão, que foram produzidos sete discos, que alcançaram com vendas de mais de quatro milhões de cópias.
Dentre seus maiores sucessos está a música “Verdade Chinesa”, que faz parte do volume 3 do Projeto Aquarela Brasileira. A música é de Carlos De Carvalho Colla / Gilson Vieira Da Silva, e fala da busca pela verdade existencial absoluta, onde o homem faz promessas, mas tropeça nas coisas do dia a dia e por isso se angustia. É a letra que traduz a vida do homem comum, que tem desejos de melhorar, faz, promessas mas tem limitações.