Memória do circo brasileiro ganha registro audiovisual durante a pandemia

De todas as atividades culturais, a circense talvez tenha sido a mais duramente golpeada pela pandemia, por conta de duas características fundamentais do circo: o contato direto com o público e a itinerância. Circos parados, picadeiros vazios e um exército de artistas e técnicos à espera da retomada plena.

Nesse meio-tempo, um programa do Centro de Memória do Circo (CMC), da Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo, em parceria com a produtora Tenda dos Milagres Filmes, foi a campo com o Programa Emergencial da Memória do Circo Brasileiro e ouviu 40 artistas em todo o país, em cerca de 80 horas de gravação audiovisual.  

Foram ouvidos palhaços, equilibristas, acrobatas, dançarinas, adestradores, secretários, capatazes, empresários e técnicos, todos de notável atuação, de diferentes regiões do país e de diferentes circos, do maior ao menor, do internacional ao local, com idade entre 60 e 89 anos. 

O principal objetivo do projeto foi salvaguardar a memória ameaçada pela pandemia, que afetou mais a população idosa. O registro será lançado neste sábado (12), às 17h, no YouTube (youtube.com/user/memoriadocirco), com participação dos circenses.

As entrevistas audiovisuais, feitas pela internet, foram conduzidas por doze profissionais, pesquisadores e artistas ligados ao circo, num projeto concebido pela pesquisadora circense Verônica Tamaoki, coordenadora do Centro de Memória do Circo, com produção geral da baiana Karina Paz.

“Numa cultura como a circense, em que o conhecimento se preserva principalmente através da memória oral, o desaparecimento de um longevo/longeva equivale ao incêndio de uma biblioteca. Com esta pandemia, o circo corre o risco de ver incendiadas várias de suas bibliotecas. Sendo assim, não foi só necessária mas em caráter de emergência a realização deste projeto” diz Verônica Tamaoki.

Para Karina Paz, o maior desafio foi ter de fazer tudo remotamente, utilizando na outra ponta os aparelhos dos próprios mestres circenses, muitas vezes inadequados para este fim. Em alguns casos não havia boa conexão de internet, nem luz e enquadramento ideais.

“Mas a gente não perdeu o foco no nosso objetivo, que foi primeiramente a preservação da memória. Registramos essas histórias dentro das condições técnicas viáveis, sujeitas algumas vezes à instabilidade de imagem e som, atenuadas na pós-produção, na medida do possível. Como historiadora e realizadora audiovisual, estou muito satisfeita e orgulhosa com o resultado”, avalia Karina.

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