Marisa Monte faz barulho na Times Square para o lançamento de “Portas”

Marisa Monte escancarou as portas do showbizz com a chegada de seu novo álbum. Como nada ligado à carreira da cantora – forjada cuidadosamente desde sua estreia com MM (1989) – nunca soa trivial, o lançamento reconectou à artista, sempre adepta da invisibilidade midiática quando não tem algo novo para mostrar, ao mainstream mundial num movimento surpreendente. 

Em Nova York, desde a noite de sexta (02), um telão anuncia e dá spoilers sobre o clipe da canção “Portas” – faixa do disco homônimo que chegou há pouco mais de 48 horas. O álbum já aparece no Top 100 do iTunes EUA, figurando em 98º lugar – e dando à Marisa Monte a melhor posição de um artista brasileiro na plataforma norte-americana de vendas. Em Portugal, Portas alcançou a 42ª posição na Apple Music.

Na Times Square, Marisa é vista em telões – em trechos da produção dirigida por ninguém menos que Giovanni Bianco, diretor de arte incensado que já trabalhou com Marisa e que assina vídeos de Madonna e o recente clipe “Girl From Rio” de Anitta. 

Todo esse barulho é para apresentar o videoclipe inédito a ser exibido neste domingo (4), no Fantástico, da TV Globo, e simultaneamente em seu canal no YouTube.

A música é uma criação de Marisa com os velhos parceiros, Arnaldo Antunes e Dadi. A canção batiza o recém lançado álbum, que sucede “O Que Você Quer Saber de Verdade” (2011). 

“Portas! Todas servem pra sair ou pra entrar. É melhor abir para ventilar esse corredor….Tudo que precisamos nesse momento são várias portas, que nos dê um pouco de esperança, obrigado Marisa Monte por nos presentear com um hino, um ar nesses corredores da vida! Nesse domingo vamos lançar o clipe no Fantástico, muito lindo! Um dos videos mais lindos que dirigi na minha vida!. “Nossa Rainha!”, derrete-se Bianco.  

Que me perdoem os fãs de Anitta, mas Marisa Monte já havia chegado aos quatro cantos desde o lançamento de “Mais” (1991) – disco que a catapultou para todo o planeta e fez com que a cantora alcançasse um prestígio pouco visto para um artista brasileiro em terras gringas. 

Para quem não sabe, foi a partir da recusa de Marisa Monte para apresentar-se na cerimônia dos Jogos Olimpicos do Rio, em 2016, que Anitta ganharia os holofotes mundiais ao performar com Caetano Veloso e Gilberto Gil –  artistas então escalados para substituir os Tribalistas.  

O “não” de Marisa pegaria todos de surpresa, além de render diversos burburinhos na imprensa, já que ela havia participado do encerramento das Olimpíadas de Londres, em 2012, e Arnaldo e Carlinhos Brown tinham aceitado o convite para a apresentação no Brasil.

Meses depois, a cantora justificaria sua recusa. “Deixa esta oportunidade pra outra cantora, a vida é assim, já participei em Londres”, diria com modéstia. 
 
Artista poderosa  

Vale lembrar que Marisa, uma artista que dominou a década de 90 e ditou padrões da indústria fonográfica, subverteu todos os princípios desta mesma indústria ao adquirir todas as matrizes dos seus trabalhos com a EMI Music – num movimento que causou furor no mercado musical e lhe deu a liberdade artística que goza hoje.

Era algo inpensável para época e que só poucos artistas a exemplo de Michael Jackson e, no Brasil, Roberto Carlos tiveram ousadia e cacife para tal feito. Também seria a fase que firmaria Marisa como “uma artista que só faz o que quer e quando quer” sem se curvar às pressões de gravadoras para lançar discos anualmente. 

E seu poder de fogo foi provado com seus sucessivos discos, Cor de Rosa e Carvão, Verdade, Crônicas e Declarações de Amor, Barulhinho Bom, Uma Viagem Musical, os gêmeos Infinito Particular e Universo Ao Meu Redor.

Os lançamentos  sempre foram espaçados por longos períodos, mas que geraram turnês monstruosas, pelos quatro continentes – que consolidaram sua arte e lhe renderam todos os elogios da crítica mundial.  “O Que Vocêr Saber de Verdade”, seu penúltimo álbum de estúdio, à levou a vários países com mais de 100 apresentações.

É normal na carreira de Marisa Monte passar longas temporadas em grandes casas de shows. Em tempos de turnê, a cantora chega a ficar quatro semanas em cartaz no Rio  e SP, com seus espetáculos sempre abarrotados de um público ávido pela artista – e que esgotam ingressos em shows super concorridos e aclamados.

Por sinal, foi em sua última tour, “Verdade, Uma Ilusão”, que Marisa Monte provou mais uma vez que não brinca em serviço: o power trio que forma a Nação Zumbi, Pupillo, Lúcio Maia e Dengue, somou-se à sua banda no show eleito pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) o melhor espetáculo daquele ano de 2013 e que levaria o Grammy Latino pelo CD Ao Vivo. 

Primeiro álbum solo em 10 anos reúne feras

Marisa chegou  acompanhada de um time de ‘responsa”, que inclui Seu Jorge, Marcelo Camelo, Silva, e os antigos parceiros Arnaldo Antunes, Pretinho da Serrinha, entre outros.  Àlbum? Sim, álbum! Conceitual, gravado no Rio, Nova Yorke, Lisboa e Los Angeles, “Portas” materializa a artista na cena musical brasileira após 10 longos anos. 

Dez anos? É que para os fãs não vale contar a recente (e histórica) tour dos Tribalistas, que correu o Brasil e a Europa lotando estádios, em 2018, e foi encerrada com duas apresentações apoteóticas – que reuniram 45 mil pessoas em cada noite, no Allianz Parque (SP), devidamente registradas no primeiro DVD dos Tribalistas (assista no final deste texto). 

Nesta conta também não entra a apresentação da artista no Lolapalooza 2019. Acompanhada de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, Marisa empolgou e calou a boca daqueles que torceram o nariz pelo fato de Os Tribalistas terem sido escolhidos um dos headliners do evento, que teve nomes como Red Hot Chilli Peppers, Pearl Jam e The Killers.

Acompanhada por parceiros já habituais, gente do quilate de Arnaldo Antunes, Dadi, Seu Jorge e Nando Reis – com quem retoma a parceria pausada no disco Mais -, Marisa também abre Portas mais uma vez para Silva, artista que reverenciou sua obra no disco “Silva Canta Marisa, com quem a cantora também gravou a delicada “Noturna (Nada de Novo na Noite)” em 2016. 

Ela também inova estreando parcerias com Chico Brown, que assina quatro das 16 canções do disco e ocupa o lugar do pai, Carlinhos que, pela primeira vez, desde “Cor de Rosa e Carvão” (1994), não participa de um álbum da cantora. É parceria de Marisa com a cria de Brown o envolvente soul “Calma”, primeiro single de Portas, música bonita, daquelas que dá vontade de sair cantarolando por aí.

“Fico todo emocionado e agradecido por tamanha oportunidade de ver minha comadre e Gênio encaminhando você. Obrigado Zé!”, disse Carlinho Brown. Zé é Marisa Monte, que ganhou este apelido ainda criança, o qual só os mais íntimos e afetivos conhecem e pronunciam para se referir à cantora.  

O trabalho ainda traz o hermano Marcelo Camelo – poeta contemporâneo que assimilou a atmosfera musical tão singular da cantora em canções como Sal e Você Não Liga. “Fiz ‘Vagalumes’ com Arnaldo Antunes e ‘Sal’ e ‘Você não Liga’ com o Marcelo Camelo, que também me trouxe uma música dele, ‘Espaçonaves’, que já estava pronta”, conta Marisa.

Somando ao time, há ainda a volta de Arto Lindsay – uma participação que dá o tom deste reboot. Arto é o responsável por trabalhos como Mais e Cor de Rosa – ambos definidores da carreira da cantora. É Arto quem assina a coprodução da faixa Portas, em Nova York (EUA), assim como imprime sua marca  no single Calma.

“Pra Melhorar”, sua parceria com Seu Jorge – com quem a cantora fez elogiadas apresentações no Brooklyn Academy of Music (NY), em 2015 – enfatiza toda a aura solar e esperançosa do disco. É entoada com Seu Jorge e Flor, a filha do cantor, que imprime um tom soul à canção. 

Portas é um reboot que parte dos melhores trabalhos dos 30 anos da carreira de Marisa. Estão lá Mais, Verde Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão e, principalmente Verdades, Crônicas e Declarações de Amor. Ah, sem esquecer a bela “Elegante Amanhecer”, faixa que exalta a Portela, escola de Marisa, poderia facilmente ocupar a atmosfera que norteia o repertório do elogiado disco de samba “Universo ao Meu Redor”. 

Nova turnê 

Sobre a volta aos palcos, Marisa conta que neste período de pandemia global ainda não é possivel definir uma data. 

“Ainda está difícil fazer planos. Dependemos da vacina e da maioria da população imunizada. Talvez no final do ano, se tudo der certo em 2022, a gente vai ter a alegria de se encontrar de novo. Comecei minha vida na música com 19 anos e nunca fiquei tanto tempo sem cantar ao vivo e sem encontrar o meu público. Estou sentindo muita falta, não vejo a hora de poder cantar junto.”.

“O silêncio é o melhor remédio”, disse a cantora em material de divulgação do novo disco. Ela está certa, “Portas” vale à espera de uma década e chega com uma luz no fim do túnel em tempos de mudanças. 

“Portas” é mais um ponto pra Marisa, que segue fazendo boa música e reconstruindo suas crônicas bem pensadas, que instigam pela sofisticação, sem perder o adorável e doce apelo pop que norteiam suas criações. E mesmo que demore um pouco – e ela sempre demora – é sempre bom vislumbrar a alvorada na voz de Marisa Monte neste universo musical tão particular criado pela artista e seus parceiros.

Confira telão na Times Square:

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