Livro valoriza mestras de capoeira da Bahia
Biografias, histórias, fotografias e curiosidades sobre as atuais mestras de capoeira de Salvador, Lauro de Freitas, Feira de Santana, Santo Amaro, Santo Antônio de Jesus, Muritiba, Barreiras, Bom Jesus da Lapa, Itabuna e outros municípios baianos estão reunidas no livro “Maltas de Saia – histórias das mestras de capoeira da Bahia”. A obra será lançada na próxima terça-feira (31), a partir das 19 horas, no perfil @mare_cheia_producoes, no Instagram. Organizado e escrito por mulheres capoeiristas e pesquisadoras, o e-book será disponibilizado gratuitamente também em formato de audiolivro no site marecheiaproducoes.com.br.
Com o objetivo de fomentar a preservação e a difusão da memória histórica, do trabalho e dos legados culturais das mestras de capoeira da Bahia, a publicação se baseia em relatos pessoais expressivos. Segundo a coordenadora do projeto, Franciane Simplício, professora de capoeira mais conhecida como Bisonha, as protagonistas de “Maltas de Saia” possuem grande experiência e conhecimento dos saberes e fazeres tradicionais e têm vida e obras voltadas para a capoeira, além do reconhecimento público das ações por elas desenvolvidas onde vivem e/ou atuam. “As biografias, apresentadas em ordem alfabética, destacam as vivências e intersecções entre as mestras e revelam a importância política, social e cultural da presença da mulher na capoeira”, frisou a pesquisadora.
Por ser a única obra com esta proposta e diante da escassez de informações sobre a temática, ela servirá como fonte relevante de pesquisa para quem deseja conhecer esse universo. “Fizemos questão de transformá-la em audiobook por entender que a leitura é uma das principais ferramentas para a inclusão de pessoas com deficiência visual na sociedade. O livro falado permite que cegos e pessoas com baixa visão tenham acesso ao mundo dos livros. Esta acessibilidade é fundamental”, destacou Franciane. Outras co-autoras da publicação são as pesquisadoras Dayse Simplicio Cerqueira (Instrutora Formiga), Maria Luísa Bastos Pimenta Neves (Contramestra Lilu) e Maristela Carvalho de Souza (Instrutora Maristela).
Origem – A inspiração para o nome do livro veio das mulheres capoeiristas do início do século XX, que sempre compartilharam as ruas da velha Bahia com os homens, mas tiveram suas histórias ocultadas por um sistema hegemônico, racista e patriarcal. Maltas, grupos de capoeiristas do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX, eram integradas por negros(as) e mulatos(as) que lutavam e resistiam contra o sistema, a elite carioca da época. Por possuírem grandes habilidades corporais, eram temidas e vistas como pessoas de alta periculosidade, violentas, agressivas e de uma classe perigosa.
Em Salvador, houve organizações muito peculiares que também mantinham a cultura das maltas, embora sem a mesma expressividade e dimensão dos grupos formados no Rio de Janeiro. “Marcas comuns das maltas, independentemente da região onde se encontravam, eram o companheirismo grupal, a solidariedade e a proteção mútua entre seus membros. Foi com base nessas características que adotamos o termo literário Maltas de Saia”, destacou a mestra em educação, Franciane Simplício.
Com vasta experiência na organização de livros e ações de políticas públicas para a capoeira, a coordenadora do projeto atuou como pesquisadora na produção do livro “Mestres e capoeiras famosos da Bahia”, publicado pela Editora da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA) em 2009 e organizou os livros “Pensando a capoeira – dimensões e perspectivas” e “A Capoeira em Salvador – Registro de mestres e instituições”, da Coleção Capoeira Viva (Fundação Gregório de Mattos – 2015). Além disso, Franciane é uma das organizadoras do livro “Capoeira em múltiplos olhares – estudos e pesquisas em jogo”, editado em 2016 e relançado em 2020 pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB).
“Maltas de Saia – histórias das mestras de capoeira da Bahia” foi idealizado pela Maré Cheia Produções Criativas e Sustentáveis e tem o apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Pedro Calmon (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.