Gestores da Prefeitura serão Guardiões da Pedra de Xangô
Os presidentes da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), Tânia Scofield, e Gregório de Mattos (FGM), Fernando Guerreiro, foram convidados pelas Matriarcas da Pedra de Xangô, na última quarta-feira (4), para que se tornem guardiões do rochedo de 8 m de altura e 30 m de diâmetro, situado na Avenida Assis Valente, no bairro de Cajazeiras X. Os gestores devem receber o título oficial de Guardiães da Pedra de Xangô, em cerimônia a ser realizada em 29 de junho deste ano, dia da Fogueira de Xangô.
“Eu me sinto extremamente honrada e feliz com este convite. Venho acompanhando essa luta e buscando, através da FMLF, preservar o monumento e sua função. Então, elas entenderam que faço parte da vigília pela salvaguarda da Pedra de Xangô, que já foi objeto de muitos atos de vandalismo, especialmente de intolerância religiosa. Agora, aumenta a minha responsabilidade, que é também de todo o povo de Salvador”, celebra Tânia. Ela ressalta que, tendo em vista a proteção da Pedra de Xangô, a FMLF foi responsável pelo desvio da Avenida Assis Valente, de modo a distanciá-la da pedra, bem como pela incorporação do riacho próximo ao monumento ao Parque da Pedra de Xangô, inaugurado pela Prefeitura em maio de 2022.
Lugar sagrado – Já o titular da FGM destaca que começou a apoiar a luta pela salvaguarda da Pedra de Xangô logo que entrou na gestão pública, em 2013. “Fico muito orgulhoso com o convite e a homenagem de guardião deste monumento sagrado, que, de alguma maneira, é algo que faço desde que comecei a trabalhar na Prefeitura. Porque a pedra e o parque são um marco da identidade de Cajazeiras, um ponto de lazer para as famílias, um patrimônio cultural do município tombado em 2017. Importante não só para as religiões de matriz africana, como para todo o Brasil”, disse Guerreiro.
Advogada e mestre em arquitetura e urbanismo pela Ufba, Maria Alice Pereira foi autora da dissertação que serviu de base para o tombamento do monumento e que depois foi publicada em livro, intitulado “Pedra de Xangô: Um Lugar Sagrado Afro-Brasileiro”. Ela explicou a motivação para a escolha dos gestores para esta honraria. “São duas pessoas que defendem o lugar sagrado não apenas como gestores, que escutam as comunidades de terreiro, envidam todos os esforços para suprir suas demandas, combatem o racismo religioso e têm relevantes serviços prestados por esta causa”.
Grupo – As Matriarcas da Pedra de Xangô é um grupo formado por 20 ialorixás, cujos terreiros são sediados em Cajazeiras, que se reuniu para proteger o monumento pela primeira vez em 2005, quando surgiu a ameaça de que a pedra seria implodida para dar lugar à via pública. Em 2010, as ialorixás se reuniram para dar início à Caminhada da Pedra de Xangô, com a participação da Mãe Zil, já falecida, que foi uma liderança central naquele momento. “Daí se desdobrou uma política de salvaguarda através dos rituais, que inclui o Amalá, o Osé, o Ingorossi, o Acará e a Fogueira da Pedra de Xangô”, ilustrou Maria Alice.
A estudiosa sublinha que a Pedra de Xangô está inserida na Mata Atlântica, “pulmão verde da cidade”, numa Área de Proteção Ambiental (APA), e que, além de patrimônio cultural tombado, o monumento também é um patrimônio geológico de relevância nacional, “enormemente importante para os candomblés, para o bem-estar e a saúde da população de Salvador e ainda para a história, pois outrora rota de fuga dos escravizados. Portanto, portadora de todas as razões para ser devidamente preservada e celebrada”, concluiu.