Episódio com PM ascende alerta para problemas psíquicos que acometem profissionais na linha de frente da pandemia
O caso envolvendo o policial militar Wesley Soares, 38 anos, que no último domingo (28), efetuou tiros, no Farol da Barra, e depois disparou contra os policiais que tentavam mediar a situação chama atenção para a importância de cuidar da saúde mental. Com a pandemia de Covid-19, os problemas psíquicos têm aumentado, principalmente entre os trabalhadores de serviços essenciais, aqueles que estão na linha de frente de combate à doença. Uma pesquisa divulgada no artigo “Depressão e Ansiedade”, coordenada pela Fiocruz, e feita em parceria com outras instituições mostra que sintomas de ansiedade e depressão afetam 47,3% dos trabalhadores de serviços essenciais, no Brasil e na Espanha. Mais da metade deles, 27,4%, sofre de ansiedade e depressão ao mesmo tempo.
O crescimento do número de casos de doenças psíquicas durante a pandemia preocupa o psicólogo, neuropsicólogo e diretor da Fema Psicologia, Djalma Andrade, que chama a atenção para a importância de ofertar assistência emocional a esses profissionais.
Segundo ele, o caso trágico do Farol da Barra que culminou com a morte do policial deve ser tratado como dissonância cognitiva, que é quando a pessoa entra em conflito com o que ele acredita ser correto e o que ele precisa executar. Depoimentos de colegas do PM esclarecem que o policial, que atuava no Sul da Bahia, não concordava em fazer cumprir o fechamento do comércio da cidade de Itacaré, medida adotada para combater o avanço da covid-19 no estado.
O psicólogo esclarece que para chegar à conclusão que Wesley teve um “surto psicótico”, seria necessário um trabalho de escuta técnica e detalhada. Essa definição define algo que se aproxima da loucura, o surto psicótico acontece quando há perda de relação da realidade. Segundo ele, independente da definição, o fato é que o PM teve um momento de desequilíbrio emocional.
“Todos aqueles profissionais que estão diretamente ligados ao combate da pandemia, seja lidando com pessoas nas ruas ou com pacientes e familiares em hospitais, precisam de um cuidado maior com as questões emocionais. Essas pessoas têm estado diariamente muito perto da doença, da morte, do sofrimento, por isso, precisam de um profissional para orientar.
*Alerta*- Diante desse caos, a chance de adoecer mentalmente é muito grande”, frisa.
Na opinião do especialista, serão necessárias políticas de assistência em saúde mental para trabalhadores de serviços essenciais e para crianças e adolescentes – seja para aqueles que perderam parentes para o vírus ou para os que precisarão se readaptar à nova rotina após a pandemia de coronavírus.
“Antes da pandemia, as doenças da mente não estavam tão evidentes. Mas depois do Covid-19, as pessoas têm deixado aflorar suas questões e, de fato, têm adoecido mais. É preciso parar agora e buscar ajuda. Falo com muita preocupação, por entender que a situação da saúde mental também é urgente”, diz o psicólogo que dirige uma empresa de Home Care que tem dado suporte psicológico em toda Bahia.