Em novo documentário, Chacricha vai de ‘palhaço anárquico’ a ‘workaholic meticuloso’

“Na televisão, nada se cria, tudo se copia” era o que Chacrinha dizia nos programas de auditório que comandou dos anos 50 aos 80. A frase soava ainda mais irônica saindo da boca do apresentador que revolucionou a forma de se comunicar. Foi ele quem popularizou a TV, cativando as massas com irreverência e anarquia.

É justamente o lado mais transgressor e polêmico do Velho Guerreiro que está em primeiro plano em um novo documentário sobre o apresentador que jogava bacalhau na plateia: “Chacrinha, Eu Vim Para Confundir e Não Para Explicar”.

Com estreia nos cinemas brasileiros marcada para o dia 28, o longa-metragem resgata a sua trajetória desde que ele saiu de Surubim, no Pernambuco, na faixa dos 20 anos, até a sua morte, no Rio de Janeiro, em 1988, aos 70 anos. E o roteiro passa por seus ápices e por suas crises – tanto pessoais quanto profissionais.

O documentário analisa o legado do apresentador que passou pela TV Tupi, Globo e Bandeirantes com imagens de arquivo e muitos depoimentos. Como o de Elke Maravilha, que foi jurada em seus programas, o do apresentador Luciano Huck, o da lendária chacrete Rita Cadillac e o do jornalista e apresentador de Pedro Bial.

“Resgatamos o Chacrinha pioneiro, inovador e vanguardista. Ele mesmo já falava fazer televisão colorida quando a TV ainda era em preto e branco. E tudo isso em uma época de ditadura militar, de censura e de muitos preconceitos”, diz ao NeoFeed Cláudio Manoel diretor do filme, em parceria com Micael Langer.

“Na primeira década da televisão, a de 50, como pouca gente tinha o aparelho, as atrações não tinham nada a ver com o Brasil. Esse paradoxo de uma TV de elite só vai a baixo quando Chacrinha entra”, recorda Pedro Bial, em depoimento no filme.

Com suas roupas espalhafatosas e uma buzina pendurada no pescoço, José Abelardo Barbosa de Medeiros se transformava no Chacrinha no palco. E o homem que dizia “Quem não se comunica se trumbica” não economizava esforços para conquistar audiência no meio da algazarra que criava.

Havia sempre mulheres “para todos os gostos” (como ele mesmo dizia) no time das dançarinas chacretes, assim como um show de calouros, com farta distribuição de abacaxis como troféu. “Chacrinha revolucionou ao colocar o povão diante das câmeras”, conta Manoel.

O apresentador brincava com negros, homossexuais, nordestinos e mulheres de um jeito que o mundo de hoje não toleraria, por conta do politicamente correto. “O olhar preconceituoso está nas pessoas, nessa mania de ver o povo sempre como coitado, de vê-lo de cima. Como se o povo estivesse lá para ser humilhado e manipulado”, afirma o diretor.

“Ao trazer essa alegria e anarquia para a frente, Chacrinha valorizou o povo, mostrando exatamente a cara do Brasil. Preconceito era essa ideia de que todo mundo tinha de ser bonito, em um país que não queria se reconhecer e buscava uma higienização”, diz Manoel, que é mais conhecido como uma das estrelas do grupo de humoristas Casseta & Planeta.

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