Simone volta à cena musical em álbum com canções de compositores nordestinos
Em “Da Gente”, disco que chega nove anos após o lançamento do elogiado É Melhor Ser (2013), Simone volta a percorrer a trilha do afeto, por meio do olhar cuidadoso a compositores do Nordeste e pela temática das 12 músicas que pinçou para o repertório. O álbum chega às plataformas de música , pela Biscoito Fino – ouça.
“A vida sem os afetos não vale a pena. O que me salvou na pandemia foi o lado afetivo, o que veio de mim e o que veio pra mim. Espero que este trabalho Da gente cumpra uma rota sentimental que faz falta nos nossos dias, do coletivo, do grupo, da amizade, da confiança,” diz Simone.
A ideia de fazer um disco apenas com canções de autores nordestinos vem de 2015. “Eu já tinha comentado sobre isso com algumas pessoas, porque eu sou nordestina. Tinha até um título: Por Ser de Lá, verso de Lamento Sertanejo, de Gilberto Gil e Dominguinhos”.
Uma dessas pessoas era Zélia Duncan. O plano ficou em suspenso em meio à agenda de shows, mas em 2021, Zélia disse à amiga que ela precisava conhecer uma pessoa: Juliano Holanda, compositor, diretor e produtor pernambucano que vem se destacando na cena contemporânea da música brasileira.
Haja Terapia, música de Juliano, foi escolhida para abrir o disco. É um retrato desses tempos pandêmicos em que o mundo parece ter parado. “Haja Terapia chamou muito a minha atenção, não só pelo fator pandemia que a gente ainda está vivendo, mas porque, além de tudo, a música é muito bonita. Ela cria imagens fantásticas. Fiquei impactada e muito emocionada. Quando você fatia o tempo nas terapias, vê também o tempo das coisas. E acho que ele correu mais a favor e de forma íntima para me ajudar a botar os meus demônios para fora”, explica a cantora.
A obra de Martins e Isabela Moraes, dois pernambucanos, já estava no radar de Simone há algum tempo. Dele, a cantora escolheu A Gente se Aproveita, de interpretação delicada. Já Você Distante, de Moraes, é um xote que mostra como, “às vezes, para evitar a confusão, melhor é a separação”.
Apesar de nascida na Bahia, Karina Buhr foi criada em Pernambuco e também está presente no álbum como autora. Amor Brando, que ela gravou em 2012, ganhou uma festiva leitura de Simone, com toques de afoxé. “É uma graça essa música. Mas a gravação da Karina é muito diferente da que a gente fez. Houve o trabalho de achar um caminho que fosse confortável para eu cantar”, conta a cantora.
Para Escancarada, de Gean Ramos (pernambucano descendente do povo Pankararu) e Rogéria Dera, Simone optou por uma interpretação mais expansiva e adequada à canção em que adverte: “Quer sair/Saia/Mas passe o perfume/Aquele perfume/Que marque o caminho caso queira voltar”.
Para encerrar o disco, escolheu Naturalmente, parceria da paraibana Socorro Lira com Roberto Tranjan, da qual a cantora tirou o título do disco, uma música que fala sobre tudo o que é essencial para o bem-estar coletivo. A interpretação de Socorro, lançada em 2019, comoveu Simone. “A voz dela parece um algodão, de tão doce”.
Da Gente também dá o pontapé inicial nas comemorações dos 50 anos de carreira de Simone, em abril de 2023. “Espero fazer shows, estou há mais de dois anos sem pisar no palco”, afirma a cantora, ansiosa por um reencontro presencial com o público.
REPERTÓRIO
Haja Terapia (Juliano Holanda)
Boca em Brasa (Zélia Duncan e Juliano Holanda)
Nua (Simone/Tiago Torres da Silva)
Estilhaços (Cátia de França/Flávio Nascimento)
A Gente se Aproveita (Martins)
Por Que Você Não Vem? (Joana Terra/ PC Silva)
Escancarada (Gean Ramos/Rogéria Dera)
Dezembros (Fagner/Zeca Baleiro/Fausto Nilo)
Você Distante (Isabela Moraes)
Imã (PC Silva)
Amor Brando (Karina Buhr)
Naturalmente (Socorro Lira/Roberto Tranjan)